domingo, abril 09, 2006

Para ler e pensar... ou rir!

Todos para o outro lado
A um gajo que ande atento, não podem escapar os sinais de que o mundo está a mudar. Por muito que nos custe, há que encarar as coisas de frente e não vale a pena assobiar e olhar para o lado. A verdade nua e crua é que os larilas estão a ganhar e que em cada dia que passa o seu poder e capacidade de influência marcam pontos. Já não é uma coisa só de gajos esquisitos a que a gente não ligava a ponta de um corno. Aquilo foi-se infiltrando a pouco e pouco e agora já não conseguimos ver um filme que não tenha no mínimo um protagonista abichanado, ler um jornal ou uma revista que não traga uns artigos a pregar os benefícios da prática ou andar na rua sem nos cruzarmos com espécimes da raça de mão dada. Pior, pegam nos ídolos do nosso imaginário e vêm-nos contar que afinal eram todos rotos. Vamos ver se o Afonso Henriques escapa.
A pedra-de-toque foi aquele inquérito que concluiu que 10% do pessoal se amandava para o outro lado na maior. A partir daí foi o descalabro com uma data de gajos a esgadanharem-se para deixarem bem claro que sempre jogaram naquele campeonato, que se por acaso até tiveram filhos foi porque foram coagidos pelo cacete da sogra porque o que eles queriam mesmo era ter casado com o porteiro.
Quando dei que andavam a dar Óscares a filmes de cowboys de costas dobradas tomei a decisão que não me poderia deixar ficar para trás, sob pena de qualquer dia começar a ser apontado a dedo na rua e multado pela autoridade por indecência e má figura. Fui a uma dessas lojas de roupa amaneirada, mandei pintar umas madeixas e arranjar as unhas e passei a frequentar os bares mais duvidosos.
O resultado foi uma perfeita catástrofe. À primeira tentativa de meterem conversa comigo, vieram-me ao de cima os genes e arriei uma cotovelado no olho da bicha que ficou a ganir, e mal me distraí tinha posto a mão na perna da emprega perante o olhar crítico e reprovatório dos outros fregueses.
A culpa de tudo isto fica a dever-se à educação que os meus pais não me souberam dar, sempre a incutir aquelas ideias retrógradas de que "um homem não chora". A sua trágica falta de visão vai-me agora condenar a uma existência triste, excluída de um adequado convívio social com os do meu sexo e vai seguramente impedir que alguma vez tenha a possibilidade de ocupar cargos de destaque.
É preciso mudar este estado de coisas. Para que as próximas gerações não sofram da terrivél discriminação a que já estou irremediavelmente condenado, é necessário que os educadores tenham mão firme na formação da personalidade das crianças. Nada de jogos de futebol ou de colégios mistos. Vamos abolir os contos de fadas em que a princesa acaba casada com o príncipe. Proibição absoluta de brincar aos médicos com as primas. A revolução sexual deve ser mesmo assumida como uma prioridade estratégica para os governantes. Em dez do "inglês para todos" deveremos enveredar pelo "todos com o inglês ou o inglês com todos".
Manuel Ribeiro
in Notícias Magazine, Nº 291/118
Sarcasmo e ironia marcantes.
Qual a vossa opinião?

2 comentários:

Lilis disse...

AHAHAHAHAHAH AHAHAHAH AHAHAHAH...TÁ BOA!

Nuno disse...

Gostei. Especialmente quando fala da educaçao que os seus pais nao lhe deram. Pelos vistos, os seus pais nao lhe ensinaram a nao se meter na vida dos outros. Se o tivessem feito, você nao se importava se o seu vizinho da frente come uma modelo por dia ou prefere levar com um pau no rabo a toda a hora... Tambem nao lhe ensinaram que a sua liberdade de expressao termina onde começa a dos outros. Mas isso é provavelmente porque toda a sua familia deve ter uma origem deveras nobre, ou seja, deve ser daqueles casos que se julgam donos do ar e de todo o territorio nacional e arredores quiça? Como diria JC: crescei e multiplicai-vos (traduçao: va-se auto-penetrar)