sábado, fevereiro 18, 2006

Sarcasmo na Administração Pública. Dá que pensar...

ESTOU FARTO

Sou funcionário público.
Ainda não vi a minha fotografia numa esquina anunciando que se procura "vivo ou morto, um criminoso perigoso".
Mas graças à incompetência dos políticos, já evito dizer a profissão em público e começa a ser frequente ouvir os conhecidos mandarem-me piropos desagradáveis, para não falar daquilo que se ouve no café ou na mercearia.
Entrei para a Função Pública por mero acidente conjuntural.
Mas entrei.
Num tempo em que o funcionário era tratado com um mínimo de dignidade. Os políticos referiam-se a eles com o mínimo de consideração e não apenas com uma educação contida por receio da perda de votos.
Naquele tempo sentia-me socialmente útil. Os incentivos não eram muitos, mas trabalhava com prazer. Sentia-me empenhado naquilo que fazia. Nem pensava na reforma. E só as dificuldades do dia-a-dia me levavam a questionar o que ganhava ou os aumentos que poderia ter.
Passados alguns anos, e porque os portugueses têm o mau gosto de escolher os políticos com menos cuidado com que votam em quem vai ganhar a Primeira Companhia, passei a ser bode expiatório de todos os males do país.
Agora sou um parasita.
Não produzo nada.
O que ganho equipara-me a qualquer proxeneta. Sou um "gandulo" que não justifica o ordenado.
Agora estou a mais no meu país. Ainda antes de haver quadros de excedentários, sinto-me um excedente social. Ganhe muito ou ganhe pouco, trabalhe muito ou trabalhe pouco, ganho demais. O que faço não serve de nada.
O empresário que gasta o dinheiro da empresa em putas e não a moderniza não tem culpa. O político que ganha por fora (é para financiar o partido, diz ele aos seus corruptores) não é responsável. Os governantes que compram frotas imensas de automóveis novos, estão a zelar pelo património do Estado. O "boy" incompetente não faz parte do problema.
O único problema sou mesmo eu. Acontece que estou a ficar farto de ser o problema...

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